segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

RECOMEÇAR



Imagino quantos de nós não gostaríamos de estar recomeçando algo, mas nem sempre é impossível. Isto mesmo, nem sempre é impossível. Recomeçar não significa necessariamente negar o que se fez, nem tão pouco dar continuidade ao que se parou. Muitas vezes implica em dar chance a si mesmo para fazer diferente, de forma acertada ou equivocada.
Mas nem todos estão dispostos a recomeçar. Aquela senhora fina e falante que estava à minha frente no momento da caminhada vespertina, por exemplo, (péssimo), talvez não esteja disposta a recomeçar a sua caminhada para excluir o arremesso da sacola plástica no rio. Aliás, o que o mundo saberá do rio de nossa cidade se nós nem dele cuidamos da melhor forma? Ela com certeza estará em forma física, não provavelmente para o seu esposo, mas talvez para mostrar-se às outras, numa competição inconsciente que recomeça a cada manhã.
Recomeçar é um pouco desistir e um tanto perseverar. Também pode ser condenação, assim como ocorreu com Sísifo, obrigado a recomeçar todos os dias, por desobediência a Deus. Alguns de nós, como Sísifo, temos que levar a nossa pedra redonda ao cume da montanha, vê-la rolando de volta e levá-la novamente até que ela nunca pare no topo.
Lembremos que Maslow nos considera, humanos, dotados de uma escala de necessidades: fisiológicas, segurança, social, auto-estima e auto-realização. Na medida em que satisfazemos uma necessidade, buscamos satisfazer uma outra e assim sucessiva e ciclicamente. O topo, neste caso, é a auto-realização, que se assemelha ao cume da montanha de Sísifo.
O mundo talvez fosse mais humano, menos desigual, mais alegre, menos violento, mais fraterno, menos estressante e mais solidário se exercitássemos mais a nossa fé no recomeço desta vida em outra dimensão e que cada dia fosse um epílogo provisório. Se este recomeço estiver arraigado verdadeiramente em nosso espírito, ótimos resultados nos proporcionaria antes do fim. Recomeçar, portanto, é partir de onde se parou: no início, no meio ou no fim.
Recomeçar é perdoar a si mesmo pelo abandono dos próprios projetos, pessoais, profissionais ou espirituais. Parafraseando Fernando Pessoa, “recomeçar é preciso...”
Eis que aqui estou a recomeçar na crônica, a visitar seu pensamento, o seu coração e seu espírito. Ao mesmo tempo convido-lhe e peço-lhe permissão para compartilhar comigo este recomeço nesta página, navegando em temas sociais, políticos, literários, econômicos, espirituais...
Quem sabe você também recomeça algo que deixou cair no esquecimento ou que a pressão da vida moderna lhe fizera inverter as prioridades? Ou seja, quem sabe você recomeça algo que nunca deveria ter sido deixado para trás. E quem sabe se, neste exame do recomeço, a gente encontre ou aprofunde o sentido verdadeiro de nossa vida. Recomecemos como Benjamim Disraelli escreveu: “O verdadeiro amor não morre. Dorme para acordar mais belo”.